Versão em portuguêsReportagem publicada na Gazeta do Povo
Pesquisa realizada pela doutoranda Louise Bach Kmetiuk, do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular da UFPR, mostrou que todos os vinte javalis(Sus scrofa)amostrados no Parque Estadual de Vila Velha foram sorologicamente positivos para pelo menos um antÃgeno de bactérias do gênero Rickettsia spp., responsável pela Febre Macular Brasileira (FMC), doença fatal transmitida por carrapatos.
O estudo foi aceito para publicação na revista PLOS Neglected Tropical Diseases.
Embora as capivaras (Hidrochoerus hydrochaeris) sejam reconhecidas como a principal hospedeira de carrapatos vetores da doença, como o carrapato-estrela (Amblyomma sculptum), e amplificadores da bactéria Rickettsia rickettsii, o principal e mais mortal agente causador da BMF no Brasil, javalis (fauna invasora) parecem ser capazes de transportar e disseminar um grande número de capivaras de seus habitats naturais (piscinas e margens de rios) para outros ecossistemas. Além disso, as atividades de controle populacional do javali por caça (Instrução Normativa IBAMA 03/2013) podem aumentar o risco de exposição dos controladores e seus cães a esses carrapatos, com consequente exposição à Febre Macular brasileira.
"Os resultados são impressionantes e colocam controladores e outras pessoas na floresta onde os javalis estão em grande número", diz o professor Alexander Welker Biondo, coordenador da parceria da UFPR com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e o Parque Estadual de Vila Velha. Segundo Juarez Barkoski, gerente do Parque, a situação é grave: "Os javalis tiveram um impacto terrÃvel na fauna e flora de Vila Velha, e isso piorou nos últimos anos, com a recente retirada da cobertura vegetal em frente aos arenitos, sÃmbolo da nossa unidade de conservação".
O estudo sugere que houve perda de habitat de espécies nativas devido à presença de javalis no Parque, incluindo relatos de peccaries em busca de alimentos em plantações de cereais presentes na zona tampão do parque. A presença maciça das ninfas e dos estágios adultos do carrapato Amblyomma brasiliense também indicou a sobreposição de javalis selvagens com o nicho ecológico de cães de caça(Tayassu spp.), Hospedeiros naturais desta espécie de carrapatos.
A pesquisa realizada dentro da Unidade De Conservação Integrada do Parque Estadual de Vila Velha é intitulada "Controle populacional e sanidade dos javalis silvestres (Sus scrofa)presente no Parque Estadual de Vila Velha", com o objetivo de avaliar e monitorar a presença e interação da espécie com a fauna e flora nativa neste fragmento da Mata Atlântica, bem como seu impacto na Saúde Única. Outras zoonoses, como toxoplasmose, leptospirose e raiva também foram testadas em javalis selvagens, consideradas como a fonte preferida de réptil sanguÃneo para morcegos hematófagos após análise de imagens obtidas por câmeras de movimento instaladas em diversas áreas do parque.
Os resultados deste estudo podem ser importantes na concessão de subsÃdios para o planejamento de ações públicas na prevenção de doenças negligenciadas transmitidas por vetores, como a Febre Macular Brasileira e outras zoonoses, tanto em áreas agrÃcolas com javalis, cães de caça e controladores, também nas áreas naturais de áreas protegidas.
Que? Pesquisa de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular (UFPR), em estudo em parceria com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e a Universidade de São Paulo (USP) para a pesquisa da Febre Macular Brasileira e outras zoonoses em javalis selvagens, cães de caça e controladores de javalis.
Onde? Parque Estadual de Vila Velha-PR e seu entorno (Região dos Campos Gerais).
Quando? Abril 2019 (NTD PLOS, 2019)
Como é que isso aconteceu? Trabalho de monitoramento sanitário de javalis no Parque Estadual de Vila Velha-PR e seus arredores, Região dos Campos Gerais, em javalis, cães de caça e controladores de javalis.
Quem? A doutoranda Louise Bach Kmetiuk (telefone 41 99994-2216) e o professor Alexander Welker Biondo na UFPR (telefone 41 98845-8750).
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Figura 1. Puma (Puma concolor) em um dos pontos de monitoramento no Parque Estadual de Vila Velha-PR. (Fonte: Pesquisadores da UFPR).
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Figura 2. Javalisilvestreno Parque Estadual de Vila Velha-PR. Observe que a imagem foi capturada no mesmo ponto de rastreamento da foto anterior. No Brasil, apesar da ocorrência de grandes felÃdeos como o puma, os javalis não possuem um predador natural que possa controlar sua população. (Fonte: Pesquisadores da UFPR).
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Figura 3. Grupo hatch (Tayassu spp.) em área de floresta monitorada no Parque Estadual de Vila Velha-PR. (Fonte: Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná).
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Figura 4. Javali silvestre (Sus scrofa) em área florestal também ocupada por caipiras, sugerindo sobreposição de habitat. Note a presença de um morcego hematófago realizando repotto sanguÃneo no animal. (Fonte: Pesquisadores da UFPR).
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